
Questionário de obra – Análise de “A enfermidade salvadora”
Sobre o autor, Bruno Giraldelli:
Nasci em 12 de julho de 1983 na cidade de Americana/SP. Desde pequeno a escrita corre em minhas veias. Creio que seja um dom ou uma vocação, algo que toda pessoa recebe como ferramenta de promoção do bem e da verdade; uma dádiva que Deus oferta a quem se torna merecedor – para quem se propõe a fazer diferença. Quando criança adorava ler gibis. Nas primeiras séries do ensino fundamental eu já inventava histórias enormes. Na realidade, eu nem sei se o que faço é literatura, pelo menos não como os eruditos pregam; eu apenas escrevo o que minha intuição e minha sensibilidade percebem no mundo; às vezes, é uma necessidade; noutras, um estado de espírito e de graça; na maioria das vezes, é para dar um destino nobre às minhas dores mais infames. Aos vinte anos comecei a ler romances estrangeiros, especialmente franceses, ingleses e russos; devorei centenas de livros em pouco tempo; mais tarde caí de paixão por Clarice Lispector e por poetas como Fernando Pessoa e Carlos Drummond de Andrade. Depois me interessei por filosofia e Friedrich Nietzsche foi um dos meus filósofos preferidos. Sigmund Freud e sua psicanálise também me inspiraram. Gosto de ler e estudar a bíblia. Examino de tudo e retenho o que é essencial. Já tenho um livro publicado e também já escrevi algumas crônicas para um pequeno jornal. Não, não tenho formação acadêmica e não sou membro de círculos literários importantes; todo o meu conhecimento veio de minhas experiências de vida – eu escrevo os movimentos da minha existência de modo que meus escritos sejam reconhecidos por quem quer que seja humano. Eu escrevo para seres humanos. Com almas. Escrever, para mim, é salvação. De quê? De mim mesmo.
Sobre a obra: “A enfermidade salvadora”.
Depois de uma grave crise mental, Daniel é acolhido numa clínica psiquiátrica. Essa (divina) fatalidade transformará para sempre o modo com que ele, sua mãe, seu pai e todos os envolvidos enxergam a vida. A história também conta com a influência dos estudos da psicanálise e a importância da arte na percepção do transtorno mental como uma verdade que revela o que move a razão, a emoção, a paixão, o desejo, a busca e o espírito de um ser humano. Inspirado na compreensão que o filósofo Friedrich Nietzsche teve sobre a própria enfermidade em sua autobiografia “Ecce Homo” e na “loucura” da salvação de Jesus Cristo.
1 – Por que você escreveu esta obra?
“A enfermidade salvadora” foi escrita para despertar consciências sobre o que há de maravilhoso na excepcionalidade humana, eu digo – na loucura. “A enfermidade salvadora”, um livro pretensioso, divertido e perigoso, é uma crítica à tranquilidade dos que se julgam impunes e lúcidos. Afinal, o que não mata fortalece e a loucura de Deus é mais sábia do que os homens.
2 – Para quem esta obra foi escrita e/ou dedicada?
Dedico a todos aqueles que buscam a verdade ainda que ela seja terrível; dedico aos que riem, cantam e dançam sobre a dor; dedico a todos aqueles que buscam sabedoria, autoconhecimento e o lado bom do que “dizem” ser mau; “A enfermidade salvadora” é uma história de transformações morais, intelectuais e espirituais – de superação.
3 – Em quanto tempo a obra foi escrita?
A obra levou, entre um curso de psicologia interrompido, crises emocionais, estudos, amores impossíveis, sensações difíceis, remédios fortes e experiências transcendentais, cinco anos para ser concluída. Que bagagem, não? Ainda assim, eu continuo aprendendo. Nada sei – sou uma pessoa que apenas sente.
4 – Qual a área em que esta obra se encaixa?
Dá para citar muitas; filosofia, psicologia, realidade contemporânea, arte, religião – é um livro que atravessa a vastidão do comportamento humano e toca em tudo.
5 – Qual o público que, em sua opinião, irá gostar de ler esta obra?
Pessoas que buscam conhecer-se, que buscam viver bem como são, independente do que a sociedade, a religião e outros meios de dominação impõem; creio que vão gostar aqueles que apreciam o jeito sensível, fluido e brutalmente belo de escrever de Clarice Lispector e do divertido cinismo do filósofo Nietzsche – é um livro com boas pitadas de ironia e sarcasmo sobre as misérias humanas. Um livro cheio de símbolos que provocam e inspiram a razão. As personagens são pessoas comuns que vão crescendo em conhecimento à medida que precisam lutar e enfrentar a realidade – elas aprendem a dançar apesar da dor. Gosta quem se reconhece na história. Mãe, pai, filho, pensadores, profissionais da saúde mental – vai gostar quem é completamente humano e não tem medo disso.
6 – Qual foi o método utilizado para escrever esta obra e seu conceito principal?
O livro foi construído com intuições, pensamentos livres e alguma experiência própria no assunto, mas também tive apoio de algumas obras de Sigmund Freud (“Cinco Lições de Psicanálise” e etc.), Nietzsche (“Ecce Homo”) e Clarice Lispector (“Um sopro de vida”). A obra é baseada em situações reais, mas ganha um relevo ficcional para ser amplamente discutida. A história não tem data, é quase atemporal, apesar de criticar a “modernidade”. O lugar “provavelmente” é o Brasil por alguns “fatos” que o leitor não deixará de reconhecer. É uma história para qualquer lugar ou tempo. As personagens são bastante humanas, e eu me inspirei na vida de todos nós, em nosso comportamento, nossos medos, anseios, desejos, sentimentos, paixões, culpas, preconceitos; são pessoas vivendo, buscando, se danando, rindo, chorando, descobrindo, aprendendo, morrendo, renascendo, permitindo – existindo. Já o conceito do livro traz uma ideia do que é saudável e verdadeiro através da ótica do que é doente e louco. Todo aquele que busca ser completo precisa ficar atento às coisas mais loucas e pervertidas do mundo, pois as mais fortes e mais legítimas verdades estão ocultadas sob os piores nomes, de maneira que somos ensinados a desprezá-las. Afinal, disse Deus que todas as coisas criadas são boas; depende do modo como você vê – depende do seu grau de instrução. É preciso abrir a alma e a mente; com psicanálise e também com arte se pode fazer da enfermidade uma sublimidade.
7 – Que tipos de orientações e afirmações estão contidos nesta obra?
O livro foi escrito para provocar irremediavelmente a consciência das pessoas; orienta à liberdade emocional e espiritual e afirma que todos nós somos controlados por ilusões, más escolhas, tradições, realidades forjadas e péssimas referências paternais; nossa mente é um caos e somos, quase sempre, vítimas de nossos próprios atos – da nossa própria razão. Mas não é o fim da linha: é possível ainda retomarmos nossas vidas e reconstruirmos nosso próprio destino; é preciso, porém, uma decisão responsável, uma abertura sensível e um querer. Talvez o livro ajude com suas personagens passando exatamente por essas mudanças; talvez elas indiquem os caminhos.
8 – Quais são as mensagens que esta obra transmite ao leitor?
De esperança, de possibilidade de mudar as coisas, de liberdade, de amor, de paz, de aceitação de retomada da responsabilidade sobre si; algo como: conheça-se a si mesmo e torne-se invencível.
9 – Quais são os temas/assuntos principais e coadjuvantes abordados na obra?
Loucura. Arte. Família. Deus. Redenção. Sociedade. Psicologia. Psiquiatria. E muitos outros.
10 – Qual o foco narrativo utilizado na obra?
O narrador é um observador-onisciente.
11 – Em que esta obra se diferencia das obras publicadas anteriormente?
Meu primeiro livro, “Águas Clandestinas”, teve sua publicação patrocinada em 2008 pela Secretaria de Cultura de Americana/SP através de um concurso realizado pelo Conselho Municipal de Cultura. Em minha estreia, falei um pouco sobre natureza, Deus e o homem, especialmente sobre a chuva, que simboliza um ciclo de vida. Era um narrador-personagem divagando sobre suas memórias e suas impressões do mundo. Um livro poético, mas bastante denso. “A enfermidade salvadora” traz personagens e uma história mais fluida que evolui em começo, meio e fim; é completamente diferente do primeiro livro. É um pouco mais simples e realista.
12 – Em que esta obra se diferencia de outras obras de outros autores do mesmo gênero, estilo e assunto? O que esta obra traz de novo, diferente, revolucionário, inédito ou singular?
Talvez a diferença esteja na forma com que a loucura é abordada, assim como pela forma de me expressar abertamente sobre tudo aquilo de que somos constituídos; tive a preocupação de dosar com humor o que é sério e de não poupar críticas e denúncias a tudo o que atrapalha nosso desenvolvimento humano, doa a quem doer, envolva quem tiver que envolver – ninguém ficará isento. Não será confundido todo aquele que puder conhecer a verdade sobre as coisas e sobre si. Eis um pouco da verdade em “A enfermidade salvadora”. Liberte-se. Enlouqueça ou morra raciocinando.

Trecho do livro
“Quando vejo um louco na rua aos berros, eu paro para ouvi-lo. As pessoas ao redor continuam marchando inexoráveis, mas eu ouço prontamente a mensagem daquele que nasceu e enlouqueceu exatamente por mim – para me libertar através de sua louca verdade. Não se pode jamais desprezar tal graça. A liberdade é fruto de uma delicada e sapiente estupidez, como ser tão sensato a ponto de se conquistar plenamente o direito à insensatez – ser livre é uma loucura em grau heroico”.